São Paulo - Por cinco décadas e meia, a Libertadores teve períodos de dominância de certos países ou equipes. O Independiente até hoje é o maior vitorioso da competição porque venceu seis de seus sete títulos entre 1964 e 1975 (incluindo o único tetracampeonato seguido, entre 72 e 75).
Mas tirando alguns pontos fora da curva, o equilíbrio é marcante e superior até o da Champions League: não há um soberano como o Real Madrid, que venceu 13 vezes e dos 10 países que tradicionalmente disputam a competição sul-americana, apenas Peru, Venezuela e Bolívia não tiveram um campeão.
Mas infelizmente não é isso que vemos nos últimos anos. Uma matéria completa do site de apostas esportivas Betway coloca em números a dominância dos clubes brasileiros nos últimos anos, com sete dos últimos 11 títulos disputados. Isso inclui 2021, quando Palmeiras e Flamengo, os dois últimos campeões, farão a final em Montevidéu.
A culpa não é dos clubes brasileiros, que ainda em sua maioria não são geridos de forma devida e desperdiçam dinheiro. Mas ao mesmo tempo, não há uma competição continental sem uma briga entre times de diversos países, já que se corre o risco da pior coisa possível em um esporte: a previsibilidade.
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Leia a notícia completaExpansão e aumento
Apesar do Brasil não estar em um bom momento econômico, sua economia é muito mais forte que a dos outros países mais fortes da América do Sul, como Argentina, Colômbia e Chile. A comparação com Uruguai, Paraguai, Peru, Bolívia, Venezuela e Equador é ainda mais díspar. Não à toa o Palmeiras é campeão com o paraguaio Gustavo Gomez, o uruguaio Viña, o Flamengo tem o chileno Isla, o uruguaio De Arrascaeta e a lista segue: bons talentos sul-americanos não ficam em seus países e usam o Brasil como trampolim pra Europa.
A única forma de equilibrar essa balança é pela própria Libertadores, já que dedicando boa parte de seus calendários para campeonatos nacionais os times ficam presos em suas fronteiras e às limitações de seus países.
A execução de uma Superliga como a proposta na Europa foi catastrófica, mas a ideia não é toda para se jogar fora: uma competição continental mais longa que promova jogos melhores e mais interessantes, com várias divisões, pode dar certo. E com um calendário sem tantos jogos de ligas e copas nacionais – e no caso do Brasil, até estaduais – é possível incluir viagens mais longas para o México e Estados Unidos, dois mercados gigantescos e com muitos recursos.
A inclusão de times de grandes receitas é uma forma de criar mais rivais para os clubes brasileiros. Aliás o Tigres, do México, venceu o Palmeiras no Mundial de Clubes de 2020. E com uma competição mais interessante e com mais recursos é possível que clubes do Peru, Uruguai, Bolívia e países menores tenham mais receitas para contratar, formar jogadores e criar estruturas.
Teto salarial e negociações conjuntas?
Uma segunda ideia que tem paralelo no mundo, mas que não deve nem passar pela cabeça dos líderes da Conmebol é seguir o modelo das ligas americanas e que a UEFA também implementa de forma tímida com o fair play financeiro. O fato de ter um limite de gastos para que o futebol não se torne uma briga de bilionários que enterra e mata as raízes do esporte é importante. Mas em um contexto da Conmebol onde brasileiros e argentinos brigam pelo controle da entidade e não parecem concordar nunca, é muito improvável que isso aconteça.
A ideia seria ter negociações conjuntas de direitos televisivos, patrocínios, parcerias para explorar as marcas e até limites de salário, gastos e investimentos. Isso acontece na terra do capitalismo, os Estados Unidos, e todos saem ganhando. Mas aqui nas terras dos Libertadores, é mais provável que o domínio brasileiro continue por um bom tempo.