São Paulo - Existe um conceito de que a jabuticaba é uma fruta que só existe no Brasil. Apesar de incorreto (a árvore também aparece no Uruguai e na Argentina), a expressão “ser uma jabuticaba” passou a designar algo tipicamente brasileiro, algo peculiar às terras verdes e amarelas, e nem sempre com uma conotação muito positiva, por mais doce que seja o fruto.
Por esse ponto de vista, o Brasileirão Série A, que chega à 20ª edição no formato de pontos corridos, pode ser considerado um campeonato jabuticaba. Sua competitividade, sua tradição, sua capacidade de gerar (e perder) talentos e sua enorme imprevisibilidade fazem dele um torneio como nenhum outro em todo o mundo.
Primeiro fato: nenhuma outra competição nacional tem tantos postulantes ao título. Antes da primeira rodada, é razoável apontar pelo menos oito times com alguma chance de levantar o caneco. Isso representa 40% dos competidores, uma porcentagem assombrosa. Evidentemente, conforme o tempo passa, fica mais claro quem de fato pode ter sucesso, e quem era fogo de palha. Mas mesmo esses últimos podem surpreender, com retomadas improváveis, como a do Internacional em 2020, que de desacreditado ficou a um gol da glória.
Maratona!
E esse time tem que trabalhar duro, porque no Brasil tudo muda muito rapidamente. O número elevado de partidas obriga técnicos a fazerem trocas constantes nas equipes, seja por contusões, por suspensões ou apenas por preservação de jogadores. Nem todos os clubes têm um elenco vasto o bastante para trocar peças sem prejuízo técnico. E mesmo que tenham, podem sofrer com a falta de padrão de jogo. Tudo isso computado, e um favorito pode facilmente deixar pontos preciosos pelo caminho para adversários notadamente mais modestos.
E eles – os dirigentes – são outra jabuticaba de nosso campeonato. Poucos são os que se atêm à liturgia do cargo e atuam apenas como mandatários, pensando no bem maior do esporte. A maioria é um torcedor disfarçado de cartola, e não hesita em tomar a atitude que lhe convém, antes da que seja mais razoável. Ainda mais se um grande rival estiver envolvido e, coincidentemente, possa ser prejudicado.
Rivalidade!
De volta ao campo, há também as rivalidades. Existem as tradicionais, como Fla x Flu ou Palmeiras x Corinthians, que estão sempre presentes, independentemente da situação dos clubes. E existem as rivalidades pontuais, geradas pelos resultados dos últimos tempos. Depois da ascensão icônica em 2019, os jogos de Flamengo x Palmeiras ganharam nova dimensão, ainda mais após as recentes finais que fizeram. Qualquer encontro na temporada regular vai ter algum tempero extra.
Você pode gostar de jabuticaba, ou talvez não. Muita gente prefere a certeza e a segurança de uma boa e velha maçã. Mas em comparação com ligas bidimensionais, nas quais só dois times realmente competem, o Brasileirão é uma constante sucessão de surpresas e emoções, até a última rodada. Uma verdadeira explosão de sabor, tal como uma boa jabuticaba madura.