Pênalti é loteria? Saiba tudo sobre a ciência por trás das cobranças de pênaltis

São Paulo - Já há muito tempo que o velho bordão “pênalti é loteria” deixou de fazer sentido. Cada vez mais se percebe que, longe de ser algo aleatório, a cobrança de uma penalidade máxima está ligada à ciência, em uma mistura refinada de estatística, probabilidade, física e psicologia.

Um pênalti no futebol é um caso excepcional de um contra um – cobrador versus goleiro. Esse tipo de confronto direto, que envolve jogo mental e análise, pode ser encontrado em larga quantidade em jogos de poker, nos quais os jogadores devem aprender a ler a mão do adversário, mesmo ela estando bem escondida.

E há maneiras de fazer isso, cientificamente. No poker, analisa-se as cartas já distribuídas, a posição de cada jogador na mesa e a atitude de cada um em relação às apostas feitas. No futebol, analisa-se vários aspectos de seu antagonista, dependendo se você é o cobrador ou o goleiro.

Defendendo um pênalti

Se você atua como goleiro, é necessário ter em mente que as probabilidades estão contra você. Cerca de 85% das cobranças de pênalti resultam em gol. Ou seja, a cada sete chutes, apenas um será defendido, em média. Mas alguns arqueiros conseguem resultados melhores, como Dida, que durante muito tempo defendeu o gol do Milan e da Seleção Brasileira. Baseando-se em estudos sobre suas defesas, pode-se conseguir subsídios valiosos para brecar uma penalidade:

• Nunca salte antes do atacante iniciar o movimento de chute. Um bom cobrador consegue alternar os cantos. Saltando antes, bastará a ele rolar a bola, mesmo sem força, no canto oposto.

• Observe a posição do pé de apoio. Há uma pequena diferença na posição, de acordo com o canto escolhido. Geralmente, o bico do pé de apoio tende a apontar para o canto da cobrança.

• Aperfeiçoe a explosão muscular. Um bom goleiro deve ser capaz de conseguir cobrir 90% da distância até a trave com apenas um salto. Isso obrigará o atacante a acertar os 10% restantes, o que aumenta o risco de ele errar a cobrança.

• Cubra a metade inferior do gol. Isso permite defender tanto um chute rasteiro quanto um chute à meia altura. Dificilmente se defende um chute no alto, mas cobranças no quadrante superior são mais arriscadas, com maior probabilidade de erro.

• Estude os cobradores. Alguns jogadores costumam bater com frequência em um mesmo lugar. Saber suas preferências pode trazer uma vantagem.

No passado, era comum o expediente do goleiro se adiantar e, assim, diminuir o ângulo disponível para o batedor. Porém, com a chegada do VAR, esse expediente perdeu sua eficiência. Em contrapartida, as novas regras da International Board permitem que o goleiro tenha apenas um pé sobre a linha do gol na hora do chute, o que propicia uma impulsão adicional.

Batendo um pênalti
Se você está do lado do cobrador, também há ciência que pode ajudar.

• Tenha um plano definido. Antes de iniciar a cobrança, é necessário ter em mente exatamente o que pretende executar. O cobrador deve estar sempre no controle do processo, e não atuar reativamente.

• Mantenha um mínimo de velocidade. Correr antes da cobrança transmite força ao chute. Uma corrida de baixa velocidade, normalmente para esperar o goleiro definir um canto, pode resultar em um chute fraco.

• Evite o chute à meia altura. Opte por chute rasteiro, rente à grama, ou no alto. Ambos são mais difíceis de serem alcançados. Já a meia altura é ideal para o goleiro.

• Desenvolva um repertório de cobranças. Considerando que os goleiros estudam os cobradores adversários, é necessário ter ao menos três tipos diferentes de batida. E alterná-las a cada oportunidade.

• Mantenha o foco. Alguns goleiros apostam em provocações, batendo palmas, apontando cantos ou falando frases em voz alta. Ignorar esses sinais é parte do processo. Basta fazer exatamente o que treinou, sem considerar qualquer tentativa de interferência do goleiro.

As penalidades são um elemento do jogo que podem ser de grande ajuda nas conquistas. Não por acaso os últimos três campeões mundiais têm a maior quantidade de gols de pênalti nas Copas.

A ciência ajuda a entender os mecanismos das cobranças, mas ela está disponível para os dois lados – goleiros e batedores. Por mais que tudo esteja analisado, escrutinado e planilhado, há a eficiência de lado a lado. E, acima de tudo, imponderável, algo inato a qualquer jogo de futebol, e maravilhosamente divertido.