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Pernambucano Série A1
Em 16 de abril de 2017 às 01:43

Déborah Cecília quebra tabus no Brasil e já sonha com a Copa do Mundo

Em entrevista ao Sr. Goool, ela também falou do preconceito, da falta de profissionalização e dos próximos passos

Rodolfo Brito São Paulo-SP

Pernambuco - A mulher voltou a ganhar espaço na arbitragem brasileira nos últimos anos. Uma das principais responsáveis é Débora Cecília, pernambucana de Recife. Ela, em 2016, encerrou jejum de 11 anos sem mulheres no apito nas divisões do Campeonato Brasileiro. Déborah Cecília também acabou com a sequência de 17 temporadas sem uma árbitra central em clássicos pernambucanos. Ela ainda fez história ao se tornar a primeira mulher a apitar jogos da Copa do Nordeste e da Copa Verde.

 Déborah Cecília fez história em quatro torneios do país no último ano!FPF / DivulgaçãoDéborah Cecília fez história em quatro torneios do país no último ano!
"Meu sonho era apitar um clássico em meu estado e eu pude realizar este sonho. Apitei o Clássico das Multidões entre Sport e Santa Cruz. Agora, quero trabalhar em uma Copa do Mundo. É um sonho não só meu, mas de outras árbitras que têm dado duro como a Ana Karina, também do meu estado, a Edina (Alves, árbitra paranaense), a Rejane (Caetano da Silva, do Rio de Janeiro)... todas estão brigando pelo seu espaço e isso é bom", ponderou Déborah Cecília em entrevista ao Sr. Goool.

Déborah Cecília, no último sábado, comandou a semifinal entre Santa Cruz e Salgueiro pelo Pernambucano. Já são nove jogos no Estadual, sendo cinco como árbitra principal. Em 2017, ela participou de 24 partidas - 13 como árbitra central e 11 como 4ª árbitra. Em 26 de março, a árbitra nordestina encerrou um longo jejum em Pernambuco. Desde Maria Edilene, em 1990, nenhuma outra mulher havia apitado um clássico no estado. Déborah comandou o empate, por 1 a 1, entre Leão da Ilha e Santinha. Mas mesmo sendo a profissional FIFA com a maior bagagem no futebol brasileiro neste início de temporada, ela sabe que ainda há preconceito no esporte.

"Sempre há (preconceito). Mas não é apenas no futebol. Parte da população ainda é machista, preconceituosa. Tive pessoas que me apoiaram, mas a maioria olha diferente. Várias vezes sofri preconceito. Ninguém acreditava no meu trabalho. Sou da turma de 2010, muito antes da mulher ganhar um certo destaque na arbitragem. Na várzea o preconceito era ainda maior. Já cheguei a expulsar jogador e ele partir para agressão verbal. Falando que lugar de mulher não era ali, que eu não sabia nada. Este tipo de coisa", conta Déborah que também garante ter tido muito apoio durante todos estes anos.

"Eu já comecei minha trajetória. Não pode atropelar as coisas. Não esperava ir tão longe. É o envolvimento de muitas pessoas. Tenho apoio das comissões, da FPF, da CBF, do Salmo (Valentim, presidente da CEAF-PE), do Evandro (Carvalho, presidente da FPF) e do Murilo (Falcão, diretor de competições da FPF)".

Amor pela profissão!
Em 12 de junho do ano passado, ela apitou Murici e Campinense pelo Grupo A9 da Série D do Campeonato Brasileiro. Naquela momento, Déborah Cecília quebrou mais uma barreira. Desde 16 de outubro de 2005, nenhuma mulher havia apitado uma partida em divisões do Brasileirão. A última havia sido Sílvia Regina de Oliveira na vitória do Paysandu, por 2 a 1, sobre o Fortaleza, na Série A.

"Ser árbitra é gostar do que faz. É fazer por prazer. Ninguém fica rica nesta profissão. Fico feliz de quebrar todas estas barreiras. Que isso sirva de lição para muitas mulheres que têm sonho", diz ela que pede um pouco mais de respeito e profissionalização para a arbitragem.

"Isso (profissionalização da arbitragem) não só no feminino, mas como um todo. A arbitragem precisa ter a mesma estrutura dos jogadores. Nós seguimos na arbitragem porque gostamos. Mas torcemos para que seja profissionalizada. Temos tido apoio e isso é o começo. Já contamos com psicólogo, nutricionista... É preciso trabalhar não só o físico, mas também o mental, o técnico e o tático. Arbitragem é tudo isso", explicou ela que também faz jornada dupla ao ser personal trainer na capital pernambucana.

Como tudo começou...
De um tempo para cá, as árbitras passaram a realizar os mesmos testes do que os árbitros. A dificuldade é ainda maior para entrar no quadro da FIFA. E pensar que Déborah Cecília nem cogitava ser árbitra.

 Déborah Cecília comemora quebra de tabus e espera servir de exemplo!FPF / DivulgaçãoDéborah Cecília comemora quebra de tabus e espera servir de exemplo!
"Durante a faculdade participava de um projeto social de esporte e quem liderava era um árbitro. Passei a ter contato com ele. No ano seguinte abriu vaga para o curso de arbitragem e resolvi fazer a inscrição. Gostei do curso, gostei de arbitrar. Na várzea aconteciam jogos sábados e domingos e eu queria sempre estar lá. Fiz estágios, trabalhei no Sub-15, Sub-17, as oportunidades apareceram e eu aproveitei cada uma delas. Tenho muito a agradecer ao Gleydson Leite. Ele é meu padrinho na arbitragem. Sempre deu conselho, corrigiu posição. Isso me ajudou muito. Fora da arbitragem, tenho muito carinho pelo Salmo. Ele tem caráter, é excepcional".

A Copa do Mundo pode ser o próximo objetivo, mas Déborah Cecília sabe que manter o nível é o mais difícil na exigente profissão de arbitragem. E isso vale para jogos do Estadual, clássicos ou não, Brasileirão Feminino, outro torneio apitado por ela em 2017, Copa do Nordeste, Copa Verde ou divisões do Brasileirão.

"Manter o padrão é o mais difícil. Chegar é até fácil, por assim dizer, mas é preciso se manter no topo. A exigência é grande e é preciso estar atenta ao padrão da arbitragem", finalizou Déborah Cecília ao Sr. Goool.

O Sr. Goool conta com uma ferramenta exclusiva da arbitragem nacional e internacional. A ferramenta de busca traz todos os profissionais de arbitragem que apitaram jogos de campeonatos acompanhados pelo Sr. Goool. Basta digitar o nome do árbitro ou do assistente para ter a relação completa de partidas. Ou ainda é possível procurar a arbitragem através do menu "árbitros por campeonato". Tudo muito simples e fácil. (Clique na imagem abaixo e tenha o sistema de busca da arbitragem!)